POBRE TIRADENTES!
1. A PESAR
Formas de uma prática que se transformaria em Odontologia, estiveram presentes nas civilizações antigas, na Idade Média e no Renascimento e, a Odontologia Moderna, originou-se neste momento, século XVII, na Europa; particularmente, na França e Inglaterra.
Joaquim José da Silva Xavier foi, sobretudo, um grande humanista, desejoso de libertar-nos, brasileiros, das garras gananciosas dos colonizadores.
Alferes e "barbeiro-sangrador", popularizou-se pelas extrações dentárias realizadas, na tentativa de aliviar o sofrimento da população, no século XVIII.
No século XIX, os norte-americanos introduziram o conceito de "Piorréia Alveolar", articulado às "necroses ósseas" decorrentes das doenças gengivais e, pela primeira vez, extraiu-se um elemento dentário sob anestesia.
No final do século, outras ciências se desenvolveram, ampliando a compreensão do mundo e do próprio homem. Avançaram a microbiologia e a radiologia. A Psicanálise revolucionou o pensamento, com a elucidação do comportamento humano, apontando-nos subsídios para um melhor (con)viver.
2. MODELOS ASSISTENCIAIS - EMBRIÃO
A Odontologia de então, se ocupava com a eliminação dos dentes combalidos para alívio imediato da dor e, as denominadas técnicas conservadoras, de preservação dental - embrionariamente aparecidas a partir de meados do século XX -, encontraram resistências, na medida em que se popularizavam as resinas e a possibilidade de se confeccionar "dentaduras" - muito rentáveis - em massa, atendendo à demanda do mercado; desde então, já deformada.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos, os países nórdicos e escandinavos, assumiram a liderança no desenvolvimento das pesquisas em Biologia Oral - principalmente em patologia, microbiologia e imunologia -; e legaram, a profissionais e clientes, a possibilidade de erradicação/controle de cáries dentárias e doenças periodontais; principais causas das perdas de dentes em humanos.
O então chamado modelo de PROMOÇÃO DE SAÚDE estabeleceu-se entre as décadas de 60 e 80, enaltecendo e privilegiando as técnicas preventivas e recuperadoras do sistema bucal. Houve, inclusive, grande avanço nos tratamentos endodônticos (de canais radiculares), das reabilitações (mormente em porcelanas), nos tratamentos ortodônticos (aparelhos intra e extra-orais) e na própria Periodontia, "especialidade odontológica responsável pelo diagnóstico, prevenção e tratamento das afecções gengivais e ósseas". Consolidaram-se conceitos fundamentais acerca de sua vertente conservadora e, seu segmento cirúrgico, deveras relevante, também se beneficiou, com a maior compreensão de manobras terapêuticas como enxertos gengivais e ósseos. Finalmente, na preservação do elemento dentário residia o cerne de nossa práxis. Tornáramo-nos profissionais de saúde, enfim!
3. AVANÇOS E RETROCESSOS
A "Implantologia Oral" - Implantodontia é um termo etimologicamente equivocado, pois não se implanta o elemento dentário - é a ciência que estuda os fundamentos científicos, técnicos, éticos e filosóficos das implantações aloplásticas. A possibilidade de reabilitar - estética, funcional e emocionalmente - indivíduos, através de implantes biocompatíveis, sobre os quais próteses específicas são confeccionadas, foi das conquistas mais expressivas da história da Odontologia.
A implantação foi preocupação milenar da humanidade, viabilizada cientificamente, ao longo do século XX, e consolidada, particularmente, em suas últimas duas décadas. A especialidade, reconhecida no Brasil em 1991, como qualquer outra, requer grandes investimentos humanos, materiais, pessoais e éticos para ser exercida com segurança, destreza e responsabilidade. Seleção criteriosa dos pacientes e casos, respeito às indicações e aos pré-requisitos múltiplos para sua realização, domínio amplo das técnicas cirúrgicas e expressivo conhecimento protético e oclusal, estão entre os aspectos que definirão seu maior ou menor êxito.
Atualmente, precisamos estar atentos e resistir, corajosamente, ao apelo, por vezes sedento e superestimado do mercado, acerca de suas benesses; esclarecendo a população sobre suas limitações e imprescindíveis cuidados prévios e posteriores à confecção e colocação de toda e qualquer prótese/reabilitação oral; convencional ou sobre implantes.
Necessitamos levar ao conhecimento dos usuários, a probabilidade severa de riscos aos chamados PROBLEMAS PERIMPLANTARES, caso um programa de cuidados periodontais / perimplantares, domiciliar e profissional, continuado, não seja estabelecido previa e posteriormente às reabilitações. Implantar saúde deve preceder à "implantação dentária!" Como TIRADENTES, precisaremos livrar a população das garras dos colonizadores, fabricantes e vendedores de materiais odontológicos; os grandes beneficiados com as deformações da profissão. Desta forma, estaremos zelando por sua reputação e qualidade, enquanto profissão de saúde, identidade duramente adquirida; zelando pela consolidação das especialidades - arduamente conquistadas -; e aumentando, consideravelmente, os êxitos dos tratamentos e quilate da relação dos clientes com a própria seara.
4. ALUCINAÇÃO & EVOLUÇÃO
Na clínica odontológica, o maior desafio talvez seja, eticamente, colocarmo-nos de forma a conter o excesso de otimismo dos sujeitos que nos chegam, a cada novidade que lhes mostra a imprensa. A fetichização da Odontologia e de suas "insígnias fálicas", para clientes e profissionais, é seara que, no futuro ainda precisará ser melhor investigada e compreendida pelos estudiosos do comportamento humano, nos meandros sinuosos do psiquismo. A evolução, em seu sentido Lato, é um processo lento, com acertos e erros e suas conseqüências. Tentemos. Enalteçamos os procedimentos capazes de prevenir que a população adoeça. Quando necessário, reabilitemo-na com todos os recursos tecnológicos que a atualidade nos oferece; alertando-as, entretanto, das limitações de cada procedimento. O tempo passa e traz perdas irrecuperáveis, é Real. Que, principalmente, sejamos capazes - e interessados -, em instituir uma rotina verdadeiramente sensibilizada à promoção e manutenção da saúde.
Haverá resistências, a realidade é ainda mais complexas. Cardiopatas são tabagistas, mesmo após infartos; idem hipertensos, que insistem no sedentarismo; diabéticos permanecem compulsivos comedores de sacarose. Ainda estamos a destruir o planeta. Com atitude.
POBRE TIRADENTES!
Com essa, ele não contava...
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