Portadores de deficiências físicas ou mentais são cada vez menos diferentes. Tratamentos mais precoces, terapias modernas e novas propostas educacionais estão mudando o perfil dessas pessoas e estimulando sua participação social como cidadãos. Com isso, os preconceitos que sempre cercaram os deficientes começam a diminuir.
Na área médica, os profissionais já começam a perceber a necessidade de conhecer melhor o paciente especial. Os dentistas não estão excluídos desse contexto. Daqui para frente, também eles detectarão um aumento de demanda dos pacientes especiais. No entanto, o atendimento a essa clientela ainda é um grande desafio para a maioria dos dentistas.
Além de não receberem nas faculdades o treinamento necessário, o estudante de Odontologia não é treinado para interagir com outros profissionais, o que é fundamental quando o paciente é especial. Pessoas com deficiência exigem uma abordagem mutidisciplinar e o dentista precisará aprender a trocar experiências com outros profissionais sobre o seu paciente.
Esta troca implica numa mudança de atitude do profissional, desafia a sua formação tecnicista. Ele precisará saber, por exemplo, qual a melhor postura para uma pessoa paraplégica sentar-se na cadeira do dentista, ou como abordar uma criança autista.
O contingente formado por essas pessoas está crescendo assustadoramente e os dentistas ainda não se deram conta disso. Eles tomam medicamentos que diminuem a saliva e perdem a auto-estima. Com isso, acabam apresentando muitos problemas bucais e perdendo os dentes prematuramente.
Em 1991, a Organização das Nações Unidas (ONU) documentou a proposta de criação da Sociedade Inclusiva. Na prática, o documento engloba uma série de ações que visam a formar uma sociedade mais justa no futuro, sem preconceitos ou exclusões. Independente de qualquer parâmetro, incluindo as deficiências físicas ou mentais, todas as pessoas terão o mesmo valor nessa nova proposta de sociedade. A ONU quer ver a Sociedade Inclusiva implantada em todo o mundo até o ano de 2010.
A partir dessa diretriz básica, inúmeras ações vêm se difundindo pelos diversos países que se sensibilizaram com a proposta da Inclusão, inclusive o Brasil. Aqui, o setor da Educação saiu na frente e muitas iniciativas estão sendo implementadas para integrar na escolas regulares as crianças e jovens com deficiências físicas ou mentais.
Ao contrário do que se imagina, os benefícios da Inclusão não atingem apenas as pessoas com deficiências, que deixam para trás um modelo de educação segregadora. Também as crianças e jovens sem qualquer tipo de deficiência ganham com a Inclusão, pois aprendem desde cedo a conviver com as diferenças, praticando a solidariedade e o respeito ao outro. Formarão, dessa forma, uma sociedade mais justa no futuro.
No setor de Saúde, as grandes mudanças ainda estão por vir. E não faltam pessoas à espera delas.
Só para se ter uma idéia, vou lhe dar um exemplo de uma cidade aqui bem perto do Rio de Janeiro:
Não há em Casimiro de Abreu sequer um dentista para cuidar das crianças e adolescentes com necessidades especiais na cidade. Só no Ciep da cidade, existem cerca de 30 crianças que sofrem com o problema.
"Os dentistas alegam que não tem especialização, mas o que se percebe é ainda há muito preconceito. Muitas crianças e jovens aqui na cidade, apesar da suas deficiências, têm perfeitas condições de serem tratadas nos consultórios, mas os dentistas sequer as mandam abrir a boca. Nem tratamento preventivo elas conseguem receber na cidade", diz a coordenadora técnica da Apae nesta cidade.
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