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terça-feira, maio 08, 2007

Pacientes especiais
um desafio na Odontologia

Portadores de deficiências físicas ou mentais são cada vez menos diferentes. Tratamentos mais precoces, terapias modernas e novas propostas educacionais estão mudando o perfil dessas pessoas e estimulando sua participação social como cidadãos. Com isso, os preconceitos que sempre cercaram os deficientes começam a diminuir.
Na área médica, os profissionais já começam a perceber a necessidade de conhecer melhor o paciente especial. Os dentistas não estão excluídos desse contexto. Daqui para frente, também eles detectarão um aumento de demanda dos pacientes especiais. No entanto, o atendimento a essa clientela ainda é um grande desafio para a maioria dos dentistas.
Além de não receberem nas faculdades o treinamento necessário, o estudante de Odontologia não é treinado para interagir com outros profissionais, o que é fundamental quando o paciente é especial. Pessoas com deficiência exigem uma abordagem mutidisciplinar e o dentista precisará aprender a trocar experiências com outros profissionais sobre o seu paciente.
Esta troca implica numa mudança de atitude do profissional, desafia a sua formação tecnicista. Ele precisará saber, por exemplo, qual a melhor postura para uma pessoa paraplégica sentar-se na cadeira do dentista, ou como abordar uma criança autista.
Na prática diária, a grande maioria dos profissionais alega despreparo para cuidar dos pacientes especiais. Na verdade, a maioria tem receio de entrar em contato com esse universo, onde os pacientes, de fato, exigem ainda mais cuidados do profissional.
O trabalho com esse público é extremamente gratificante, ainda que exija mais tempo de consulta. Acreditamos que um diferencial importante do tratamento de pacientes especiais é a necessidade de uma abordagem lúdica.
Existe uma gama muito grande de deficiências mentais e físicas e cada uma requer uma abordagem diferente. Por isso, os cursos de atualização para esse tipo de atendimento enfocam os tipos de deficiência, noções de psicologia, interações medicamentosas, entre outros temas. É preciso investigar muito bem a deficiência do paciente e procurar fazer uma boa anamnese. Não há regras fixas. Muitas vezes, uma pessoa com deficiência física aparente pode ser mentalmente perfeita.
A técnica de contenção com faixas é muito utilizada no tratamento dos pacientes especiais.
Esta técnica é utilizada, com autorização dos pais, como alternativa ao centro cirúrgico.
O centro cirúrgico é caro e, além disso, o paciente não pode recorrer a ele sempre que tiver uma cárie.
Uma nova técnica que vem sendo utilizada na clínica é a acupuntura, que está apresentando ótimos resultados como método de sedação dos pacientes.
É possível perceber um aumento da motivação dos alunos e profissionais para o atendimento a pacientes especiais nos últimos anos. Mas lembramos que, para ser bem sucedido nessa opção, é preciso que o profissional tenha, além de uma boa formação generalista, vontade de entender os problemas do paciente especial e também de suas famílias.
De fato, tratar de um paciente especial é lidar com uma família especial, já que ela é muito afetada com o nascimento de uma criança especial. É comum que os pais passem por um processo de negação, culpa e finalmente, aceitação. O dentista não pode ficar de fora de tudo isso e precisa interagir com toda essa dinâmica para que obtenha bons resultados no tratamento de seus pacientes especiais. É interessante que os dentistas que trabalham com pacientes especiais também interajam com psicólogos sobre a sua prática diária, pois nem sempre o trabalho é fácil.
Além dos portadores de deficiências físicas e mentais, as gestantes, hipertensos, cardíacos, diabéticos e soro-positivos também compõem uma clientela especial, ainda que seu atendimento seja menos complicado. No entanto, lembramos que há ainda uma outra população, ainda não olhada pelas dentistas, que requerem tratamento diferenciado. São os dependentes químicos.
O contingente formado por essas pessoas está crescendo assustadoramente e os dentistas ainda não se deram conta disso. Eles tomam medicamentos que diminuem a saliva e perdem a auto-estima. Com isso, acabam apresentando muitos problemas bucais e perdendo os dentes prematuramente.
O futuro dos pacientes especiais

Em 1991, a Organização das Nações Unidas (ONU) documentou a proposta de criação da Sociedade Inclusiva. Na prática, o documento engloba uma série de ações que visam a formar uma sociedade mais justa no futuro, sem preconceitos ou exclusões. Independente de qualquer parâmetro, incluindo as deficiências físicas ou mentais, todas as pessoas terão o mesmo valor nessa nova proposta de sociedade. A ONU quer ver a Sociedade Inclusiva implantada em todo o mundo até o ano de 2010.
A partir dessa diretriz básica, inúmeras ações vêm se difundindo pelos diversos países que se sensibilizaram com a proposta da Inclusão, inclusive o Brasil. Aqui, o setor da Educação saiu na frente e muitas iniciativas estão sendo implementadas para integrar na escolas regulares as crianças e jovens com deficiências físicas ou mentais.
Ao contrário do que se imagina, os benefícios da Inclusão não atingem apenas as pessoas com deficiências, que deixam para trás um modelo de educação segregadora. Também as crianças e jovens sem qualquer tipo de deficiência ganham com a Inclusão, pois aprendem desde cedo a conviver com as diferenças, praticando a solidariedade e o respeito ao outro. Formarão, dessa forma, uma sociedade mais justa no futuro.

No setor de Saúde, as grandes mudanças ainda estão por vir. E não faltam pessoas à espera delas.

Só para se ter uma idéia, vou lhe dar um exemplo de uma cidade aqui bem perto do Rio de Janeiro:

Não há em Casimiro de Abreu sequer um dentista para cuidar das crianças e adolescentes com necessidades especiais na cidade. Só no Ciep da cidade, existem cerca de 30 crianças que sofrem com o problema.
"Os dentistas alegam que não tem especialização, mas o que se percebe é ainda há muito preconceito. Muitas crianças e jovens aqui na cidade, apesar da suas deficiências, têm perfeitas condições de serem tratadas nos consultórios, mas os dentistas sequer as mandam abrir a boca. Nem tratamento preventivo elas conseguem receber na cidade", diz a coordenadora técnica da Apae nesta cidade.

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